terça-feira, 20 de janeiro de 2009

TEN, por Mário Macedo


Nota: 7/10

Abbas Kiarostami, que depois de sucessos como "O Sabor da Cereja" e "O Vento Levar-nos-á" revela-nos em "Ten" um Irão diferente daquele que imaginamos, mostrando-nos um país moderno e com questões sociais abertas.

O filme conta-nos a história de uma mulher recém-divorciada através das várias conversas que esta tem com as diferentes pessoas a quem dá boleia. Todas estas discussões que ela vai tendo acerca dos mais diversos temas, como religião, sexo, fidelidade e o divórcio, vão ajudar a perceber a posição do Irão socialmente, mas sobretudo ajuda a compreender a diferença de pensamento notória de geração para geração. Facto que suporta esta afirmação é, por exemplo, as conversas que a personagem tem com o seu filho de tenra idade, onde este têm uma posição adulta acerca da separação que o afectou, apesar de se notar influência dos pais em certas decisões da criança. E Kiarostami, ele próprio um estudioso da psicologia infantil, pretende isso mesmo, mostrar como as mentes das crianças são influenciáveis, mas, ao mesmo tempo, são cruéis e chegam mesmo a ser mais conscientes que os próprios pais, que no intuito egoísta de quererem ficar com o seu filho tornam toda a situação traumática para o jovem. Pode-se mesmo dizer que, metaforicamente, o filho chega a tornar-se em certos momentos da obra o personagem principal.

Apesar de ser esteticamente simples, é um filme extremamente arrojado, em parte porque a câmara se mantêm sempre estática, mas, por outro lado, e talvez seja este o ponto de mais forte distinção para com toda a cinematografia do autor, a câmara limita-se a situar unicamente dentro do veículo da personagem e possui somente dois planos (tem um terceiro por breves momentos onde se vê a perspectiva da personagem pelo vidro da frente). Apesar de já ter sido tentado este feito no seu "O Sabor da Cereja", onde acompanhamos a missão do personagem no seu jipe ao longo de toda a cidade de Teerão, aqui todo o conceito de topofilia é levado ao extremo.

Kiarostami dá-nos assim, de forma simples mas inteligente, uma impressão do que é o Irão, destruindo todos os cânones conhecidos desta sociedade. É uma obra extremamente refrescante devido aos temas que aborda, que apesar de actuais, não estão com rodeios devido à impressão realista que lhes são dados. É um filme com carácter europeu, mas com o Oriente como pano de fundo.

Ante-Cinema#

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