terça-feira, 27 de janeiro de 2009

MILK, por Mário Macedo

NOTA: 8/10

Já lá vão vários meses desde que o trailer do novo filme de Gus Van Sant foi lançado, e devo dizer que aquelas imagens me tinham vindo a causar uma curiosidade enorme devido à força e mestria com que se via Sean Penn a encarar um papel tão diferente de todos os outros da sua carreira. Felizmente foi-me possibilitado assistir à sessão para a imprensa do filme e esclarecer todas as expectativas criadas. Desde já digo: o resultado é positivo!

Gus Van Sant que nos seus últimos projectos tinha vindo a trabalhar maioritariamente com jovens, explorando as dificuldades da adolescência em Elephant e Paranoid Park, neste filme traz-nos algo completamente de diferente e dinâmico. Milk é um filme que se encontra entre a barreira do biopic e do documentário, jogando inteligentemente entre estes pontos toda uma atmosfera equilibrada, permitindo ao espectador nunca chegar ao aborrecimento. A história é simples mas humana. Nota-se uma tentativa em Gus van Sant de tentar mudar a mentalidade dos outros e assim criar um mundo considerado perfeito. Utópico ou não, em certos momentos parece funcionar na perfeição. Todo o enredo retrata o movimento criado por Harvey Milk na década de 70 em San Francisco, ao concorrer para Supervisor da Câmara com a intenção de lutar e conceder direitos aos homossexuais. Totalmente baseada em factos verídicos, a história vai-nos sendo contada à medida que Harvey recorda num pequeno gravador, devido ao possível atentado que possa vir a sofrer, todos os motivos que o levaram a entrar na política e a lutar pelos direitos da sua chamada ‘minoria’.

Todo o filme conta com o estilo característico de Gus Van Sant: planos simples mas que esteticamente encadeados criam no olho humano algo belo. Recorrendo frequentemente ao uso dos reflexos e ao slow-motion para nos transmitir determinadas sensações, Gus Van Sant combina de forma suave e harmoniosa, temas considerados violentos para a sociedade. O próprio uso de material documental da época ajuda o espectador a compreender de que maneira a mentalidade influenciava determinadas acções. Os próprios temas criados por Danny Elfman são propícios a cada cena, permitindo assim transmitir a impressão aspirada pelo realizador.

Ao nível da representação todos os aspectos estão ao mais perfeito nível. Sean Penn tem Oscar escrito em todas as suas cenas. A maneira como encarou a personagem é assustador de tão real que se torna. Todas as expressões, movimentos, e tiques estão lá. Apesar do actor já nos ter habituado a estas brilhantes interpretações, nota-se aqui um total empenho na criação da sua personagem, não havendo qualquer crítica a apontar. Arrisco mesmo a dizer que o filme não viveria sem a interpretação deste, sendo aí que, na minha opinião, mais peca, pois o que torna a obra de Gus Van Sant especial é mesmo Sean Penn. Relativamente aos outros actores, apesar de as suas personagens terem uma presença e carisma no ecrã reduzida comparada à de Harvey Milk , interpretam os seus papéis na perfeição, estando Emile Hirsch, James Franco e Diego Luna "irreconhecíveis". Josh Brolin, o inimigo político de Harvey, fá-lo com a solidez necessária para o papel, criando assim toda uma aura fundamental na percepção da psicologia do personagem.

Milk é um dos filmes mais surpreendentes de Gus Van Sant, e apesar de ser uma das suas maiores obras, no que toca ao nível orçamental, não cai no ridículo nem se deixa subjugar pelo já tão famoso "cliché". É uma obra socialmente poderosa, que tem apenas a intenção de dar a conhecer ao mundo um homem que lutou pelo seu ‘mundo’.

MILK ESTREIA QUINTA-FEIRA EM PORTUGAL



Ante-Cinema#

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