terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Críticas do Leitor

Eis a quarta crítica desta segunda edição das Críticas do Leitor. Depois do Jorge Santos, Filipe Coutinho e JT, agora é a vez da opinião de Justiniano Justo se fazer ouvir. Como vão poder reparar após a leitura desta crítica, muitos pontos negativos são apontados, logo, a sua opinião sobre o filme acaba por ser bastante negativa.


CRÍTICA:

Imaginem-se no dia 24 de Dezembro às 23h59. À vossa frente, debaixo do pinheiro de Natal, amontoam-se umas belas e apetecíveis caixas embrulhadas num papel reluzente e adornadas com uns laços pomposamente penteados. Ao lado encontra-se uma modesta caixa de pequenas dimensões com um embrulho perfeitamente banal. Obviamente que se vão sentir atraídos pelos embrulhos mais espalhafatosos. É natural. É humano.

Agora imaginem que nessas caixas tão grandiosas estão escondidos uns pares de meias horrendas. Há um minuto de glória em que aquelas meias foram um telemóvel de última geração e em que se imaginaram a tirar fotografias com a nova câmara fotográfica de não-sei-quantos megapíxeis. Mas a verdade é que no minuto seguinte o embrulho vai ser rasgado e imediatamente esquecido e o que conta a partir daquele instante é o padrão horrível das meias.

Baz Luhrmann tem um jeito do caraças para fazer embrulhos. Isso é inegável. À primeira vista, em Australia tudo brilha mais do que o habitual. A fotografia, o guarda-roupa, o elenco, tudo parece invocar uma epicidade de outros tempos. O realizador australiano quis transportar para a sua terra Natal a magia do cinema de outros tempos e não se poupou a esforços. Não é à toa que uma das músicas do Wizard of Oz é o leit motiv do filme, nem é à toa que a magia é uma entidade omnipresente ao longo da obra (chegando mesmo a resolver uma ou outra situação mais aguda).

Luhrmann quis juntar no mesmo filme Out of Africa, Gone with the Wind, Doctor Zhivago e outros tantos filmes que fizeram sonhar gerações. E mais ainda: quis homenagear esses mesmos filmes e ao mesmo tempo criar algo fresco.

Infelizmente a tarefa hercúlea a que se propôs ficou-se pelas intenções. Sim, a homenagem é notória mas insatisfatoriamente superficial. Voltando à metáfora inicial, é como se Luhrmann oferecesse roupa interior embrulhada com o mesmo papel em que foi embrulhado, no ano anterior, um colar de diamantes e se justificasse dizendo que queria homenagear os diamantes.

Da mesma forma que isso nos valeria uns valentes insultos, este filme não funciona. E não funciona por uma razão muito simples: não há em Australia um guião ao nível dos meios tecnológicos disponíveis. A estória é simples e desconexa e as personagens são meros arquétipos. Sombras de um Clark Gable ou de uma Vivien Leigh, sem um pingo de química. Tanto Hugh Jackman como Nicole Kidman tinham mais do que talento para nos presentearem como um casal capaz de ficar para a história do cinema. Mas para isso precisavam de material com que pudessem trabalhar e não de um guião que lhes exigisse mudanças radicais de personalidade ao sabor do vento só para desencravar a narrativa.

No final fica a sensação de se terem visto dois filmes diferentes e uma imensa desilusão.

Nota:
**

Ante-Cinema#

Sem comentários: