Esta é altura de que todos os cinéfilos adoram. Cada semana é marcada com filmes de grandes expectativas, seja por causa das nomeações aos Oscars ou por todos os prémios já atribuídos antecedentes a este. Assim sendo, esta semana o certame não foge à regra, estreando nos nossos cinemas dois filmes muito esperados por estas bandas: Revolutionary Road e Milk. E quando dizemos a "primeira falha da Academia encontrada" no título deste post, irão perceber mais abaixo porquê. O Ante-Cinema apresenta assim algumas palavras sobre os novos filmes de Sam Mendes e Gus van Sant mas, no entanto, deixa antes um aviso a todos os leitores: este fim de semana, vão ao cinema.
REVOLUTIONARY ROAD
Nota Ante-Cinema: 9/10
Nota Ante-Cinema: 9/10
Depois do "leve" Jarhead, Sam Mendes volta à sua realização predilecta, apresentando um estilo já muito familiar na sua filmografia, muito por causa do grande sucesso obtido com American Beauty em 2001. Se nessa altura American Beauty retratava não só um casamento em queda mas também uma família cada vez mais deteriorável nos subúrbios norte americanos, agora, volta a fazê-lo com um casal no centro da história, mas com uma temática que engloba todo o filme e todas as suas personagens.
E que bom é perceber que Sam Mendes percebe disto a potes. Agora pergunto à Academia o porquê da extrema ausência deste filme nas nomeações aos Oscars? E digo isto essencialmente em três aspectos: interpretações principais, realização e banda sonora. A concorrência é muita está claro, mas duvido que a ausência deste Revolutionary Road seja justa.
O filme, apesar de começar devagar com uma pequena apresentação do estado actual e psicológico do casal central, Frank e April Wheeler, começa a crescer e a ganhar total importância com a câmera de Sam Mendes. Repare-se, por exemplo, na madeira como Mendes filma os protagonistas numa cena de discussão entre ambos, lá mais para o fim do filme, através de uma câmera de mão tremida, salientando perfeitamente o estado psicológico e de tensão que o casal Wheeler passa no momento. Depois, com uma banda sonora a cargo de Thomas Newman simplesmente espectacular, com tons de piano sempre a sobressaírem e a entrar nas cenas nos momento certos, dá ao filme uma outra carga emocional e um outro estado de espírito ao espectador.
As interpretações de Kate Winslet e Leonardo DiCaprio são muito boas (mais emblemática Winslet), e que faz passar para fora do ecrã a excelente química que ambos deram a conhecer ao mundo em Titanic. Mais uma vez DiCaprio é, futebolisticamente falando, "roubado", uma vez que volta a ser posto de parte pela Academia, como já aconteceu por três vezes. Mas, apesar dos dois protagonistas principais estarem praticamente perfeitos, há que destacar o justíssimo nomeado ao Oscar de Melhor Actor Secundário, Michael Shannon. Representa perfeitamente a sua personagem alterada, com sérios problemas psicológicos e que tenta a todo custo fazer-se ouvir. E, cá para mim, Shannon até que dava um bom Joker. Vejam o filme e percebem porquê.
No fundo, a adaptação deste filme foi parar às mãos certas, tanto na realização como nas interpretações. Um filme a não perder.
Gus van Sant é um realizador que alia perfeitamente "grandes" e "pequenos" projectos. Ora nos apresenta grandes histórias aliando o cinema convencional americano como ele é, através da aposta de grandes produções orçamentais, ou realiza os seus próprios filmes mais independentes, de teor muito mais experimental, principalmente com os seus jovens que tanto gosta de retratar (Elephant e recentemente Paranoid Park). E, nesse aspecto, ele faz isso como ninguém, notando-se no seu método de filmagem, mesmo numa grande produção como esta.
Que dizer sobre uma pessoa que tanto lutou pelos direitos humanos como Harvey Milk? Homossexual assumido, com vontade de mudar o preconceito e o olhar sobre os homossexuais, e que, ainda hoje, embora menos, são descriminados. É isso que acontece com este Milk, onde Sean Penn, tão perfeito no seu papel que representa com todos os pormenores a pessoa por detrás da personagem, faz com que o resto consiga crescer ainda mais consigo. É o caso de todos os secundários que o filme engloba, onde aqui se destaca imperialmente Josh Brolin, que fecha assim um ano de ouro para a sua carreira com mais uma excelente interpretação.
Mas se um dos grandes feitos reside em Sean Penn, outro dos que torna possível Milk ser o filme que é, essa pessoa chama-se Gus van Sant. É, sem dúvida, um realizador cheio de classe, que nunca entra em nenhum momento com um daqueles típicos clichés ao contar a história de um homem que sobreviveu, lutou e morreu, pelos direitos dos homossexuais nos Estados Unidos da América. Sempre acompanhado com uma típica e sempre boa banda sonora de Danny Elfman, Gus van Sant tira todo o partido dos vários cenários e das excelentes caracterizações das personagens, para realizar um filme cheio de vida, e ainda para mais, cheio de luta em se fazer ouvir aos espectadores. É, por vezes, aliando um certo estilo documental com a sua sempre bela e diferente maneira de filmar, que Milk vai subindo cada vez mais de ritmo ao nível que o filme avança para o seu final.
No fim, as 8 nomeações aos Oscars dão para perceber que apesar de às vezes pensarmos que a Academia anda a dormir à sombra da bananeira, como aconteceu com os casos da ausência de Eastwood e Sam Mendes entre os nomeados, ainda consegue ter o bom senso de premiar filmes cheios de mensagens e poderosos a nível narrativo e conceptual.
E que bom é perceber que Sam Mendes percebe disto a potes. Agora pergunto à Academia o porquê da extrema ausência deste filme nas nomeações aos Oscars? E digo isto essencialmente em três aspectos: interpretações principais, realização e banda sonora. A concorrência é muita está claro, mas duvido que a ausência deste Revolutionary Road seja justa.
O filme, apesar de começar devagar com uma pequena apresentação do estado actual e psicológico do casal central, Frank e April Wheeler, começa a crescer e a ganhar total importância com a câmera de Sam Mendes. Repare-se, por exemplo, na madeira como Mendes filma os protagonistas numa cena de discussão entre ambos, lá mais para o fim do filme, através de uma câmera de mão tremida, salientando perfeitamente o estado psicológico e de tensão que o casal Wheeler passa no momento. Depois, com uma banda sonora a cargo de Thomas Newman simplesmente espectacular, com tons de piano sempre a sobressaírem e a entrar nas cenas nos momento certos, dá ao filme uma outra carga emocional e um outro estado de espírito ao espectador.
As interpretações de Kate Winslet e Leonardo DiCaprio são muito boas (mais emblemática Winslet), e que faz passar para fora do ecrã a excelente química que ambos deram a conhecer ao mundo em Titanic. Mais uma vez DiCaprio é, futebolisticamente falando, "roubado", uma vez que volta a ser posto de parte pela Academia, como já aconteceu por três vezes. Mas, apesar dos dois protagonistas principais estarem praticamente perfeitos, há que destacar o justíssimo nomeado ao Oscar de Melhor Actor Secundário, Michael Shannon. Representa perfeitamente a sua personagem alterada, com sérios problemas psicológicos e que tenta a todo custo fazer-se ouvir. E, cá para mim, Shannon até que dava um bom Joker. Vejam o filme e percebem porquê.
No fundo, a adaptação deste filme foi parar às mãos certas, tanto na realização como nas interpretações. Um filme a não perder.
Gus van Sant é um realizador que alia perfeitamente "grandes" e "pequenos" projectos. Ora nos apresenta grandes histórias aliando o cinema convencional americano como ele é, através da aposta de grandes produções orçamentais, ou realiza os seus próprios filmes mais independentes, de teor muito mais experimental, principalmente com os seus jovens que tanto gosta de retratar (Elephant e recentemente Paranoid Park). E, nesse aspecto, ele faz isso como ninguém, notando-se no seu método de filmagem, mesmo numa grande produção como esta.
Que dizer sobre uma pessoa que tanto lutou pelos direitos humanos como Harvey Milk? Homossexual assumido, com vontade de mudar o preconceito e o olhar sobre os homossexuais, e que, ainda hoje, embora menos, são descriminados. É isso que acontece com este Milk, onde Sean Penn, tão perfeito no seu papel que representa com todos os pormenores a pessoa por detrás da personagem, faz com que o resto consiga crescer ainda mais consigo. É o caso de todos os secundários que o filme engloba, onde aqui se destaca imperialmente Josh Brolin, que fecha assim um ano de ouro para a sua carreira com mais uma excelente interpretação.
Mas se um dos grandes feitos reside em Sean Penn, outro dos que torna possível Milk ser o filme que é, essa pessoa chama-se Gus van Sant. É, sem dúvida, um realizador cheio de classe, que nunca entra em nenhum momento com um daqueles típicos clichés ao contar a história de um homem que sobreviveu, lutou e morreu, pelos direitos dos homossexuais nos Estados Unidos da América. Sempre acompanhado com uma típica e sempre boa banda sonora de Danny Elfman, Gus van Sant tira todo o partido dos vários cenários e das excelentes caracterizações das personagens, para realizar um filme cheio de vida, e ainda para mais, cheio de luta em se fazer ouvir aos espectadores. É, por vezes, aliando um certo estilo documental com a sua sempre bela e diferente maneira de filmar, que Milk vai subindo cada vez mais de ritmo ao nível que o filme avança para o seu final.
No fim, as 8 nomeações aos Oscars dão para perceber que apesar de às vezes pensarmos que a Academia anda a dormir à sombra da bananeira, como aconteceu com os casos da ausência de Eastwood e Sam Mendes entre os nomeados, ainda consegue ter o bom senso de premiar filmes cheios de mensagens e poderosos a nível narrativo e conceptual.
Críticas escritas por: Fernando Ribeiro
Ante-Cinema#
13 comentários:
Quanto a REVOLUTIONARY ROAD, vamos lá ver.
Quanto a MILK...
«poderosos a nível narrativo e conceptual»... disseste bem. Muito bem. O filme é de facto isto: artede grande poder narrativo e de grande poder conceptual.
Destacava ainda a excelente prestação de Emile Hirsch.
Um triunfo de filme, inevitavelmente.
Roberto F. A. Simões
cineroad.blogspot.com
Eh pah, estava a ver que não. Eu insisto para fazeres uma crítica e tu fazes logo duas. Isso sim é serviço. E de muito boa qualidade :p
Quanto aos filmes, não vi o Revolutionary Road. Talvez no fim de semana. Mas vi o Milk e concordo. Também concordo com o Roberto quando destaca o Emil Hirsch. A sua interpretação é muito boa comprovando que é dos melhores actores da sua geração.
Quanto à Academia andar a dormir, não podia estar mais de acordo. Onde para o Changeling que é um filme soberbo???? Apenas Jolie se safou quando, para mim, a fita merecia a nomeação para Melhor Filme. Até o substituía pelo Milk.
Abraço
Dois filmes que estão na minha lista para ver. Excelentes critícas.
Abraços.
Roberto Simões,
Temos, então, a mesma opinião. :) Quanto a Emile Hirsch, tens também toda a razão. Apresenta uma competente e muito boa interpretação.
Abraço.
Fifeco,
É verdade. Parece que valeu a pena teres-me "chateado" este tempo todo. :) Quanto aos filmes, se ainda não viste Revolutionary Roada, aconselho-te vivamente a vê-lo. Conforme percebeste na crítica, era um filme em que tinha muitas expectativas e, felizmente, não me desiludiu nada. Quanto a Milk, também concordo com Emile Hirsch. E Eastwood faz, realmente, muita falta nos nomeados aos Oscars. O mesmo se passa com Sam Mendes.
Abraço.
The_movie_man,
Obrigado. Espero que os vejas o mais breve possível e conto depois aqui com a tua sempre bem-vinda opinião. :)
Abraço.
Amanhã vou ver o Milk... não escapa =P
2 filmes que não vou perder este fds!!!E estranhei muito o facto a exclusão do "Revolutionary Road" pela academia...
Cinemabox,
Fazes muito bem. Conto depois com a tua opinião aqui. :)
Abraço.
Anita,
Já somos dois. Na altura também estranhei mas não se pode satisfazer a todos. É pena.
Beijinho
ah o meu amigo fernando so podia concordar comigo! que é feito do dicaprio na lista dos nomeados? baah...:( fiquei mesmo surpreendida quando comecei a ver o nome dele a nao aparecer em nenhumas listas de premios...
sinceramente, e como sempre tenho defendido, apesar de boa, nao acho que a interpretação de brad pitt fosse tao merecedora de nomeação.. achei q o filme estava espectacular, mas faltava aquele "toque" especial ao benjamin button. nao sei explicar melhor...
o dicaprio foi arrepiante...enfim. o homem esta condenado a ser um esquecido...enfim sem palavras.
Boas sugestões! As mesmas que eu me faço a mim mesma. Hoje vou ao cinema e estou indecisa entre estes mesmos dois filmes. Boa altura para ver filmes, realmente. Pena os exames a atrapalhar!
Sou sincero, a crítica de Revolutionay Road não li, vou esperar para ver o filme primeiro.
Quanto ao Milk, concordo com quase quase tudo. Penso que até agora não houve filme com um conjunto geral de interpretações de tão excelente qualidade. Todos se metamorfizam de forma quase indescritível, nos seus papéis. E Sean Penn? Meu Deus, Sean Penn é tão genuíno, tão enérgico, tão vivo no seu papel, que saímos da sala de cinema e relembramos o seu papel como se este estivesse marcado a fogo na nossa mente.
Só há um problema neste filme, por vezes é aborrecido, repetitivo, chato e infelizmente, um filme não pode apenas viver das suas excelentes interpretações, a história tem que acompanhar. E acompanha, até certa altura. A realização de Van Sant tem a capacidade de nos manter atentos e apaixonados pela luta sem precedentes daquela comunidade, mas acaba por cansar...
Não sei explicar, mas senti alguma monotonia na sala de cinema, apesar da personagem Harvey Milk manter a sua vivacidade e energia contagiante, senti que a sua história de vida não acompanha a sua força, quando o filme atinge mais de metade da sua duração...
A minha nota,
7/10
Acabei de ver Revolutionary Road - soberbo - um grande veiculo de duas igualmente soberbas interpretações e concordo contigo, caro amigo Fernando, se querem um Joker para The Dark Knight ora bem Michael Shannon não era má escolha.
Academia esqueceu-se de Leo DiCaprio (Leona DiCaprio como diz o meu amigo Djavan) e obvimante Revolutionary Road para melhor filme.
A seguir - Milk, mas ando mais ansioso com The Boy in the Striped Pyjama.
Close-Up,
Pois é... Como tu também fiquei surpreendido, mas na altura como ainda não tinha visto o filme, não podia falar muito. Agora que vi, a injustiça é a melhor palavra para descrever a sua ausência. E concordo plenamente contigo quando falas no Brad Pitt. Sim, a interpretação foi boa, mas não exageremos. De qualquer forma, não levará o Oscar para casa. Pelo menos é o que eu acho.
Beijinho.
Diana,
Qualquer um deste filmes vai ser uma boa escolha. Espero depois contar aqui com a tua opinião e também para saber que filme chegaste a ver. :)
Beijinho.
Dan,
És como eu. :) Também não leio uma crítica se ainda não vi o respectivo filme. Mas depois gostava de saber a tua opinião. Quanto ao Milk, Sean Penn está mesmo 5 estrelas, sem nenhuma falha, mas discordo quando falas de um filme aborrecido. Em nenhuma altura achei isso. Muito pelo contrário, acho que o filme vai aumentando o seu ritmo à medida que avança.
Abraço.
Hugo,
Ainda bem que gostaste. E se quisessem outro Joker, realmente acho que ele dava perfeitamente para o papel.eheh Terem-se esquecido de DiCaprio e do próprio filme é que não deu com nada. Enfim. Fico então à espera da tua opinião sobre Milk. :)
Abraço.
o revelotion é bom , mas longe de o considerar uma obra-prima! Mendes foi demasiado frio na abordagem dessa história vulcanica
abraço
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