terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Mandylord of the Movies: Van Damme Revisitado

Vi o filme JCVD, protagonizado pelo veterano e estrela de filmes de acção, Jean-Claude Van Damme. O que dizer sobre este actor na casa dos 50 anos de idade, e com mais de 20 anos de trabalho no cinema? Nada?

Meus caros, nenhum de nós poderia estar mais errado. Jean-Claude Van Damme não é um possível candidato ao Oscar, nem mesmo um actor que alguma vez nos tenha deslumbrado com uma das suas representações. Mas o que faz de um actor material para prémios? Obviamente dois ou três papeis num filme sério, que viva de alguma forma da capacidade que o actor tem de tornar esse filme ainda melhor. A curiosidade desta teoria é que realmente resulta.

Na noite anterior estive a ver um documentário sobre o actor Kevin Spacey, e graças ao filme The Usual Suspects e a uma brilhante interpretação, Kevin lançou-se para as feras de Hollywood em busca de fama e glória, e lá o conseguiu. A verdade é que ganhou o Oscar de melhor actor secundário por esse filme, e ninguém o conhecia dos seus trabalhos anteriores. Kevin passou a estado de graça, e apenas quatro anos mais tarde ganhou o seu segundo Oscar pelo filme American Beauty.
Amigos, não se exaltem ainda. Não estou de todo a comparar o Van Damme, ao Kevin Spacey. O que estou a dizer é que a ideia que temos de Van Damme, é completamente alterada pela percepção do que este actor fez, e tem vindo a fazer cada vez mais, e refira-se, cada vez pior. Os seus filmes resultavam na década de 80, e até meio da década de 90. Obviamente com o mercado dos filmes de acção que existia naquela altura, actores como o próprio Van Damme, Chuck Norris, Steven Seagal, Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger, Dolph Lundgren, Michael Dudikoff, etc., representavam o herói invencível, que apesar de já existir, é reinventado, e é-lhe adicionada violência explicita e sem limites. Esses actores eram reis e senhores, e preferências de um género, que ainda levava alguns dos seus filmes para as salas de cinema. Porquê? Produtores com olho para o gosto do público, realizadores de alguma consistência, e bom dinheiro investido nos filmes. A maioria desses actores deu o salto para outro tipo de filmes, mas outros foram-se deixando ficar, e à medida que os filmes pioravam, a reputação dos actores piorava. Esse especifico cinema de acção morreu a nível de bilheteiras, e os filmes passaram a sair na sua grande maioria directamente para o circuito de aluguer.

Onde ficou Van Damme no meio de tudo isto? Pior que nunca, e a sua hipótese de dar o salto para algo de qualidade, perdeu-se com os seus filmes. As tentativas foram várias, por exemplo ao realizar o filme The Quest, com o ex-007, Roger Moore, ou ainda papéis em filmes que explorassem personagens mais humanos, como Legionnaire, Replicant, ou In Hell. O que aconteceu foi que Van Damme ficou demasiado magnetizado à personagem que se criou sobre ele, da mesma maneira que acontece com muitos actores que interpretam personagens "bigger than life", como James Bond, Batman, Superman, Spider-Man, Rocky, Rambo, e por aí fora.

O que há nos dias de hoje para Van Damme? Há JCVD. Quem não se lembra dos filmes que Van Damme fez? Quem não se lembra do quanto gostávamos de saber lutar como ele nos seus filmes, ou dar o seu famoso pontapé no ar, ou até fazer aquela espargata praticamente impossível? Neste filme encontramos precisamente um Van Damme interpretando-se a ele próprio, que tenta fugir às personagens que tem vindo a interpretar ao longo da sua carreira, que o têm vindo a assombrar, e a prejudicar de alguma forma a sua vida social.A verdade é que apesar de este não ser um grande filme, é uma interessantíssima e original reflexão interior, como se de uma autobiografia se tratasse, que vem trazer uma brisa fresca tanto no cinema, como na carreira de Van Damme. Posso com todo o meu coração dizer que admiro tanto Jean-Claude Van Damme por ter sido um dos meus ídolos enquanto jovem, e por fazer parte da minha infância, como admiro a sua coragem e sinceridade com este seu JCVD. A sensação é bastante idêntica à que tive quando vi Rocky Balboa, e a interpretação de Sylvester Stallone. Ambos feridos com a indústria de Hollywood, ambos dispostos a tentar outra vez, havendo apenas a diferença de Stallone se esconder no seu personagem, sendo mais poético, enquanto Van Damme submete a sua pessoa a humilhações que representa no próprio filme, às vezes de uma maneira cómica, outras de uma forma triste. A sua forma é bastante mais confessional, bastante mais arrependida, bastante mais humilde. Uma interpretação tão fantástica, como comovente.

Aconselho-vos vivamente a darem uma hipótese a este JCVD, e mais que tudo, a Jean-Claude Van Damme. Afinal de contas o vencedor do globo de ouro de melhor actor, e principal candidato à nomeação para melhor actor, e consequente vitória na próxima edição dos Oscar, já contracenou aqui com o nosso amigo. Dêem uma vista de olhos ao filme Double Team, e pensem que se calhar, por alguma razão, um dia poderá ser a vez de Van Damme a dizer… "I would like to thank the Academy…".

Nota Mandylor:
7/10

O Melhor: Van Damme, e a exploração cómica e dramática da sua personagem. O assaltante que delira com Van Damme é memorável.

O Pior: A interpretação de Van Damme não chega para fazer do filme uma obra-prima.



Costas Mandylor
Ante-Cinema#

9 comentários:

Filipe Machado disse...

As melhores pessoas são aquelas que se sabem rir de si próprias. Fantástico. Tenho de ver este filme...

tickets4three disse...

Temos saudades da Era Van Damme. Quem é que não se lembra dos filmes, realmente? Que pena que como dizes, alguns actores se deixem acomodar, mas não achamos que a reputação de Van Damme tenha decaído.
O teu post fez-nos relembrar os filmes que vimos dele, lol como tu dizes: aquelas espargatas com cordas... eheheh demais! Temos saudades, já não se fazem heróis como dantes!

Vamos ver este filme, pelo trailer nem parece nada mal para a idade ;) hihihiihih

*naughty tickets*

beijinhos grandes

David Martins disse...

"As melhores pessoas são aquelas que se sabem rir de si próprias. " Não podia concordar mais com esta frase!Desde que vi o trailer que estou decidido a dar uma nova hipotese a Van Damme. E eu que fui ver o Timcecop quando estreou, e na altura adorei!A malta é nova ...

JB disse...

POis nao podia estar mais de acordo. Felizmente vi o filme em sala de cinema em Paris. E foi uma óptima maneira de recordar o velho VanDamme. Nunca foi o meu ídolo na infancia. Eu sou mais adepto de Stallone e mesmo Seagal (do inicio dos 90), mas ainda assim gostava dos filmes de porrada à antiga. POr isso gosto quando de vez em quando la fazem um filme do género.

O meu preferido do actor belga é mesmo esse que referiste em que le fazia parceria com Roger Moore.

Anónimo disse...

Como já referi, Van Damme surpreendeu-me de uma maneira incrível com este filme!

Anónimo disse...

Inda não tive oportunidade de ver este filme, mas estou curioso!

Unknown disse...

Ora aí está um bom texto par aum filme que quero ver!

Anita disse...

:)
fiquei nostálgica agora:) tenho curiosidade em ver o que vai sair daqui!!!

Beijinho.

Daniel S. Silva disse...

Infelizmente, ainda não vi este filme. Esta crítica deixou-me pela primeira vez, curioso com este projecto... A ver o mais breve possível :)

Abraço!