Esta é a terceira crítica da segunda edição das Críticas do Leitor. Escrita pelo JT (Portal Cinema), esta apresenta alguns pontos muito interessantes, nomeadamente, algumas reflexões sobre o próprio conceito do filme e de que maneira este deve ser encarado. Apesar de falar em vários pontos negativos, apresenta ainda algumas referências positivas.
Antes de iniciar a minha análise a este “Australia”, gostaria de abordar uma questão que há muito tempo me incomoda e que com o aparecimento deste filme voltou a ser discutida. No mundo da sétima arte, um épico é tido como um género cinematográfico, uma classificação autónoma para aquele tipo de filmes que retrata de forma soberba e praticamente poética, as valorosas histórias de um determinado herói ou povo. Um épico é portanto uma epopeia cinematográfica que nos dá a conhecer, sem grandes preocupações por histórias secundárias, a vida e as aventuras de um determinado herói ou povo heróico. Obras como “Ben-Hur”, “Lawrence of Arabia”, “Gandhi” ou “Spartacus” podem e devem ser classificadas como épicas, porque é esse o seu género cinematográfico.
Actualmente, o termo épico também é aplicado a grandes Blockbusters ou a grandes obras da sétima arte como “Titanic”, “Lord of The Rings”, “Apocalypse Now”, “The Godfather”, “Gone With The Wind”, "Casablanca”, “Schindler’s List”, “Citizen Kane” ou “2001: A Space Odyssey”. É verdade que todos estes filmes apresentam uma qualidade extraordinária mas também é verdade que de um ponto de vista formal, não tem absolutamente nada a ver com um épico. Podem ser obras que apresentaram um épico orçamento ou uma épica qualidade gráfica mas no fundo, não passam de simples dramas ou aventuras que não estão, nem podem ser enquadradas no particular género épico.
Entendo perfeitamente que a utilização do termo “épico” na classificação destes filmes, sirva apenas para aclamar a grande qualidade da obra ou para honrar o grande impacto que teve junto do público, por isso se diz que “Titanic” é um dos maiores épicos românticos porque na realidade é uma das maiores histórias românticas da sétima arte, no entanto está classificado como um Drama e não como um Épico. Nestas situações, compreendo perfeitamente se utilizarem o termo “épico” como adjectivo para salientar a qualidade e não como meio de qualificação cinematográfica.
Exposta a minha opinião sobre a utilização do termo “épico”, resta-me contestar severamente todos aqueles que classifiquem este “Australia” como épico romântico. Como já referi, só podem ser qualitativamente épicos, aqueles filmes que apresentem uma qualidade extraordinária em todos os campos. Algo que definitivamente não acontece neste “Australia” que para além de uma épica duração (165 Minutos) e de uns excelentes aspectos técnicos ligados à imagem, não nos apresenta mais nenhum ponto de grande qualidade.
Este dito épico romântico, conta-nos a história de uma aristocrata inglesa chamada Lady Sarah Ashley (Nicole Kidman), cujo marido, desesperado por arranjar dinheiro, passou o último ano na Austrália para preparar a venda do seu último bem material, uma quinta de gado do tamanho de uma pequena cidade, chamada “Faraway Downs”. Suspeitando dos seus planos, Sarah viaja num hidroavião para este continente longínquo, com destino à tropical e remota Darwin, para tomar as rédeas do assunto. No entanto, ela é recebida, não pelo seu marido mas sim por um rude e mal-educado vaqueiro, apenas conhecido como Drover (Hugh Jackman). Na viagem por terra para Faraway Downs, Sara e o vaqueiro revelam uma profunda e mútua antipatia entre si. Após uma inesperada mudança nos acontecimentos, Nullah (Brandon Walters), uma encantadora criança aborígene, surge de repente na vida de Sarah. Este revela-lhe que nem tudo é o que parece e fá-la percebe que o cruel responsável pela quinta, Neil Fletcher (David Wenham) tem uma parceria secreta com o maior proprietário de gado, King Carney (Bryan Brown) e juntos conspiram para ficar com as suas terras. Para salvar Faraway Downs, Sarah tem que unir forças com Drover e levar várias centenas de cabeças de gado através do idílico, porém impiedoso, norte australiano. Para além de Nullah, junta-se a esta sua missão, um grupo de inadaptados da quinta, incluindo o contabilista alcoólico, os dois pastores aborígenes, a empregada doméstica aborígene e o cozinheiro chinês Sing Song (Yuen Wah). Durante a intrépida viagem, Sarah é transformada pelo poder e pela beleza do continente mais antigo do mundo, encontrando romance na paisagem, paixão no condutor de gado e amor maternal em Nullah. Mas, quando a segunda guerra mundial chega finalmente à costa da Austrália pelas mãos do Império Japonês, esta invulgar família é separada. Agora Sarah, Drover e Nullah têm que lutar para se reencontrarem no meio da tragédia e caos dos bombardeamentos japoneses a Darwin.
Apesar de terem histórias completamente diferentes, sinto que a comparação entre “Australia “ e “Pearl Harbor” é inevitável. Na altura do seu lançamento, “Pearl Harbor” era tido como um dos grandes filmes do ano (mas os seus responsáveis tiveram o bom senso de não lhe chamar épico romântico), no entanto após o seu lançamento, o filme foi atacado pela critica por ser demasiado longo e por nos contar uma história pouco original que era acompanhada por maus diálogos, na altura nem os efeitos especiais presentes nas magníficas sequencias de acção do ataque a Pearl Harbor, salvaram o filme da nota negativa. Seria de esperar que após esta fatídica vitima, mais nenhum realizador cometesse os mesmos erros grosseiros que Michael Bay mas passados sete anos, o cineasta australiano Baz Luhrmann apresenta-nos “Australia”, um filme que no inicio do ano era apontado como uma das maiores obras de 2008 mas que após o seu lançamento, caiu em desgraça e ficou completamente arredado da luta pelos principais Óscares. Tal como “Pearl Harbor”, o filme é exageradamente longo e conta-nos uma história pouco original e maçadora que não consegue ser salva pelas magníficas paisagens australianas, nem pelos grandes efeitos especiais utilizados na sequência de acção do ataque japonês a Darwin.
Um dos maiores problemas do argumento de “Australia” é a sua inconsistência. No inicio do filme, estamos perante uma típica história romântica que engloba todos os típicos clichés deste género, senão vejamos, uma rapariga de classe conhece um rapaz do povo que rapidamente aprende a odiar, no entanto com o passar do tempo, o rapaz ajuda a rapariga numa situação difícil e os dois começam a conhecer-se melhor, o que leva a uma paixão incontrolável. Ora esta linha de pensamento romântico, está presente em várias romances literários e cinematográficos e até uma criança o acharia pouco inovador já que durante anos, este foi o lema “romântico” de várias obras animadas da Disney como “Beauty & The Beast”, “Aladdin”, “Pocahontas” ou “Hercules”. Com o desenrolar do argumento, começamos a entrar no mundo dos Westerns onde vemos as terras australianas como um lugar de anarquia e perigo constante, onde os homens são verdadeiros selvagens e as mulheres autênticas donzelas indefesas. Depois, com a chegada dos japoneses e da 2º Guerra Mundial, entramos nas fantásticas e vertiginosas sequências de acção e após essa grande confusão, iniciamos uma aventura dramática em busca do previsível e emocionante reencontro. Ora como se pode constatar, em separado este “Australia” poderia ter dados uns bons cinco filmes mas em conjunto dá uma gigantesca e enfadonha trapalhada.
O romance entre Sarah e Drover é muito pouco original e é acompanhado por diálogos e situações previsíveis que não nos apresentam nenhum twist interessante que lhe possa dar mais vida e intensidade. Também a relação pseudo-maternal que Sarah começa a desenvolver pelo jovem Nullah, roça o ridículo por estar tão mal construída e desenvolvida. Na minha opinião, com bastantes cortes extensivos (entre eles o da personagem Nullah) e com um pouco mais de originalidade no romance entre Sarah e Drover, “Australia” poderia ter contado em 90 minutos uma excelente e grandiosa história que poderia ter rivalizado com os grandes filmes dramáticos de 2008.
No campo visual, o filme apresenta uma qualidade inegável que certamente será reconhecida pela Academia. A fotografia das paisagens australianas é belíssima e os efeitos especiais utilizados nas sequências de acção também roçam uma nota excelente.
Uma falha inesperada de “Australia” foi o seu elenco, já que o par romântico do filme, composto por Hugh Jackman e Nicole Kidman, não obteve a química esperada no grande ecrã. Em separado estes actores até nos apresentaram uma boa performance, mas quando se juntam na mesma cena o resultado é desastroso, seria de esperar mais entrega e realismo de dois actores bastante profissionais. O elenco secundário é meramente razoável, não havendo nenhum actor que se destaque claramente pela positiva.
Em suma, penso que Baz Luhrmann tentou fazer deste “Australia” algo que ele nunca foi nem nunca poderia ser, um épico incontestável do cinema moderno. Este cineasta australiano levou a sua ideia até ao extremo para nos apresentar uma obra exageradamente longa sem nenhuma justificação válida. O argumento é pouco original porque nos apresenta ideias recicladas de grandes clássicos de diferentes géneros que se limitaram a ser transpostas e adaptadas a esta história.
CRÍTICA:
Antes de iniciar a minha análise a este “Australia”, gostaria de abordar uma questão que há muito tempo me incomoda e que com o aparecimento deste filme voltou a ser discutida. No mundo da sétima arte, um épico é tido como um género cinematográfico, uma classificação autónoma para aquele tipo de filmes que retrata de forma soberba e praticamente poética, as valorosas histórias de um determinado herói ou povo. Um épico é portanto uma epopeia cinematográfica que nos dá a conhecer, sem grandes preocupações por histórias secundárias, a vida e as aventuras de um determinado herói ou povo heróico. Obras como “Ben-Hur”, “Lawrence of Arabia”, “Gandhi” ou “Spartacus” podem e devem ser classificadas como épicas, porque é esse o seu género cinematográfico.
Actualmente, o termo épico também é aplicado a grandes Blockbusters ou a grandes obras da sétima arte como “Titanic”, “Lord of The Rings”, “Apocalypse Now”, “The Godfather”, “Gone With The Wind”, "Casablanca”, “Schindler’s List”, “Citizen Kane” ou “2001: A Space Odyssey”. É verdade que todos estes filmes apresentam uma qualidade extraordinária mas também é verdade que de um ponto de vista formal, não tem absolutamente nada a ver com um épico. Podem ser obras que apresentaram um épico orçamento ou uma épica qualidade gráfica mas no fundo, não passam de simples dramas ou aventuras que não estão, nem podem ser enquadradas no particular género épico.
Entendo perfeitamente que a utilização do termo “épico” na classificação destes filmes, sirva apenas para aclamar a grande qualidade da obra ou para honrar o grande impacto que teve junto do público, por isso se diz que “Titanic” é um dos maiores épicos românticos porque na realidade é uma das maiores histórias românticas da sétima arte, no entanto está classificado como um Drama e não como um Épico. Nestas situações, compreendo perfeitamente se utilizarem o termo “épico” como adjectivo para salientar a qualidade e não como meio de qualificação cinematográfica.
Exposta a minha opinião sobre a utilização do termo “épico”, resta-me contestar severamente todos aqueles que classifiquem este “Australia” como épico romântico. Como já referi, só podem ser qualitativamente épicos, aqueles filmes que apresentem uma qualidade extraordinária em todos os campos. Algo que definitivamente não acontece neste “Australia” que para além de uma épica duração (165 Minutos) e de uns excelentes aspectos técnicos ligados à imagem, não nos apresenta mais nenhum ponto de grande qualidade.
Este dito épico romântico, conta-nos a história de uma aristocrata inglesa chamada Lady Sarah Ashley (Nicole Kidman), cujo marido, desesperado por arranjar dinheiro, passou o último ano na Austrália para preparar a venda do seu último bem material, uma quinta de gado do tamanho de uma pequena cidade, chamada “Faraway Downs”. Suspeitando dos seus planos, Sarah viaja num hidroavião para este continente longínquo, com destino à tropical e remota Darwin, para tomar as rédeas do assunto. No entanto, ela é recebida, não pelo seu marido mas sim por um rude e mal-educado vaqueiro, apenas conhecido como Drover (Hugh Jackman). Na viagem por terra para Faraway Downs, Sara e o vaqueiro revelam uma profunda e mútua antipatia entre si. Após uma inesperada mudança nos acontecimentos, Nullah (Brandon Walters), uma encantadora criança aborígene, surge de repente na vida de Sarah. Este revela-lhe que nem tudo é o que parece e fá-la percebe que o cruel responsável pela quinta, Neil Fletcher (David Wenham) tem uma parceria secreta com o maior proprietário de gado, King Carney (Bryan Brown) e juntos conspiram para ficar com as suas terras. Para salvar Faraway Downs, Sarah tem que unir forças com Drover e levar várias centenas de cabeças de gado através do idílico, porém impiedoso, norte australiano. Para além de Nullah, junta-se a esta sua missão, um grupo de inadaptados da quinta, incluindo o contabilista alcoólico, os dois pastores aborígenes, a empregada doméstica aborígene e o cozinheiro chinês Sing Song (Yuen Wah). Durante a intrépida viagem, Sarah é transformada pelo poder e pela beleza do continente mais antigo do mundo, encontrando romance na paisagem, paixão no condutor de gado e amor maternal em Nullah. Mas, quando a segunda guerra mundial chega finalmente à costa da Austrália pelas mãos do Império Japonês, esta invulgar família é separada. Agora Sarah, Drover e Nullah têm que lutar para se reencontrarem no meio da tragédia e caos dos bombardeamentos japoneses a Darwin.
Apesar de terem histórias completamente diferentes, sinto que a comparação entre “Australia “ e “Pearl Harbor” é inevitável. Na altura do seu lançamento, “Pearl Harbor” era tido como um dos grandes filmes do ano (mas os seus responsáveis tiveram o bom senso de não lhe chamar épico romântico), no entanto após o seu lançamento, o filme foi atacado pela critica por ser demasiado longo e por nos contar uma história pouco original que era acompanhada por maus diálogos, na altura nem os efeitos especiais presentes nas magníficas sequencias de acção do ataque a Pearl Harbor, salvaram o filme da nota negativa. Seria de esperar que após esta fatídica vitima, mais nenhum realizador cometesse os mesmos erros grosseiros que Michael Bay mas passados sete anos, o cineasta australiano Baz Luhrmann apresenta-nos “Australia”, um filme que no inicio do ano era apontado como uma das maiores obras de 2008 mas que após o seu lançamento, caiu em desgraça e ficou completamente arredado da luta pelos principais Óscares. Tal como “Pearl Harbor”, o filme é exageradamente longo e conta-nos uma história pouco original e maçadora que não consegue ser salva pelas magníficas paisagens australianas, nem pelos grandes efeitos especiais utilizados na sequência de acção do ataque japonês a Darwin.
Um dos maiores problemas do argumento de “Australia” é a sua inconsistência. No inicio do filme, estamos perante uma típica história romântica que engloba todos os típicos clichés deste género, senão vejamos, uma rapariga de classe conhece um rapaz do povo que rapidamente aprende a odiar, no entanto com o passar do tempo, o rapaz ajuda a rapariga numa situação difícil e os dois começam a conhecer-se melhor, o que leva a uma paixão incontrolável. Ora esta linha de pensamento romântico, está presente em várias romances literários e cinematográficos e até uma criança o acharia pouco inovador já que durante anos, este foi o lema “romântico” de várias obras animadas da Disney como “Beauty & The Beast”, “Aladdin”, “Pocahontas” ou “Hercules”. Com o desenrolar do argumento, começamos a entrar no mundo dos Westerns onde vemos as terras australianas como um lugar de anarquia e perigo constante, onde os homens são verdadeiros selvagens e as mulheres autênticas donzelas indefesas. Depois, com a chegada dos japoneses e da 2º Guerra Mundial, entramos nas fantásticas e vertiginosas sequências de acção e após essa grande confusão, iniciamos uma aventura dramática em busca do previsível e emocionante reencontro. Ora como se pode constatar, em separado este “Australia” poderia ter dados uns bons cinco filmes mas em conjunto dá uma gigantesca e enfadonha trapalhada.
O romance entre Sarah e Drover é muito pouco original e é acompanhado por diálogos e situações previsíveis que não nos apresentam nenhum twist interessante que lhe possa dar mais vida e intensidade. Também a relação pseudo-maternal que Sarah começa a desenvolver pelo jovem Nullah, roça o ridículo por estar tão mal construída e desenvolvida. Na minha opinião, com bastantes cortes extensivos (entre eles o da personagem Nullah) e com um pouco mais de originalidade no romance entre Sarah e Drover, “Australia” poderia ter contado em 90 minutos uma excelente e grandiosa história que poderia ter rivalizado com os grandes filmes dramáticos de 2008.
No campo visual, o filme apresenta uma qualidade inegável que certamente será reconhecida pela Academia. A fotografia das paisagens australianas é belíssima e os efeitos especiais utilizados nas sequências de acção também roçam uma nota excelente.
Uma falha inesperada de “Australia” foi o seu elenco, já que o par romântico do filme, composto por Hugh Jackman e Nicole Kidman, não obteve a química esperada no grande ecrã. Em separado estes actores até nos apresentaram uma boa performance, mas quando se juntam na mesma cena o resultado é desastroso, seria de esperar mais entrega e realismo de dois actores bastante profissionais. O elenco secundário é meramente razoável, não havendo nenhum actor que se destaque claramente pela positiva.
Em suma, penso que Baz Luhrmann tentou fazer deste “Australia” algo que ele nunca foi nem nunca poderia ser, um épico incontestável do cinema moderno. Este cineasta australiano levou a sua ideia até ao extremo para nos apresentar uma obra exageradamente longa sem nenhuma justificação válida. O argumento é pouco original porque nos apresenta ideias recicladas de grandes clássicos de diferentes géneros que se limitaram a ser transpostas e adaptadas a esta história.
Nota:
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Ante-Cinema#
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