terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Críticas do Leitor

O Ante-Cinema apresenta mais uma crítica de um dos nossos leitores. Esta foi escrita pelo Filipe Coutinho (Cinema is my Life), e expressa um claro contentamento com o filme realizado por Baz Luhrmann. A sua nota é prova disso: 9/10. É, até ver, a crítica mais positiva relativamente a Austrália.


CRÍTICA:

Um épico à moda antiga


Antes de iniciar a crítica ao mais recente, e extremamente aguardado, filme de Baz Luhrmann, devo explicar o facto de apresentar, a uma data tão distante da estreia nas salas dos nossos cinemas, uma apreciação ao mesmo. Facto é que não me dediquei à pirataria nem enveredei na compra de um DVD ilegal. Apenas tive a extrema felicidade de poder assistir a um visionamento para a imprensa. Certo é que não sou jornalista, longe disso, mas visto que a oportunidade surgiu, há que aproveitá-la. Assim, e indo direito ao assunto, aquilo que o leitor realmente quer saber, posso dizer que "Australia" não é uma desilusão, pelo menos quanto ao que eu estava à espera. Se por um lado, após a visualização, pode haver um ligeiro dissabor porque não é tão grandioso quanto "Gone With the Wind", por outro rapidamente me apercebi que os tempos são outros, a magia é distinta e o cinema urge por novas ideias. Ora, se pensarmos bem, que melhor realizador para isso do que o próprio Luhrmann? Assim, e mantendo essa ideia bem patente no meu consciente, procedi a uma revisão mental do que acabava de visualizar. Realmente, não lhe posso atribuir a pontução máxima já que fica a uns metros de distância de outros épicos como aquele mencionado supra, magistralmente protagonizado por Vivian Leigh e Clark Gable.

Por falar em interpretações, devo mencionar que, em "Australia", todas elas são perfeitas, verdadeiramente perfeitas. Há quem já aclame Hugh Jackman como o novo Clint Eastwood devido à sua extrema masculinidade que, como se pode ler na Prémiere, "transpira-a a cada poro". Segundo consta, Russel Crowe rejeitou o papel de Drover por considerar que não trabalha por caridade para um grande estúdio. Apoia o cinema independente e por ele fará sacrifícios. Hum, qual terá sido o seu cachet em "Body of Lies"? Assim, o papel principal ficou imediatamente disponível para Jackman que era apontado como David Wenham, um proprietários sem qualquer tipo de escrúpulos. Como é óbvio, este não pensou duas vezes, afirmando "este é mesmo, o directo, clássico, tradicional papel de protagonista pelo qual sempre esperarei". E diga-se, ainda bem que o fado tem destas coisas. Depois há a mítica Nicole Kidman que desde "Moulin Rouge" não tem tido uma carreira brilhante. Honestamente, deiscordo de uma grande parte dos críticos quando a acusam de falta de talento e/ou veracidade na interpretação. Esta senhora é, em tudo, fabulosa e estonteante. Além do mais, a sua química com o protagonista é tão credível quanto emocionante. É digna da mais alta das honras e, espero, honestamente, que regresse aos grandes papéis. Arriscarei a comparação dizendo que até está ao nível de Vivian Leigh. Injusto? Vejam e decidam. Ora, falta mencionar aquele que é a maior surpresa deste ano, o jovem Brandon Walters e a sua actuação do tamanho do mundo. Nunca pensei ver tamanho empenho vindo de um ser tão pequeno (sem inferir qualquer tipo de insulto) ou tamanho realismo de uns olhos que espelham o rosto de um país fabuloso. Uma nomeação para "Melhor Actor Secundário" ficava muito bem no seu currículo. Por fim, se bem que todo o elenco é imaculado, queria referir David Wenham cujo papel de vilão assenta-lhe que nem uma luva. A sua criação é louvável bem como todo o seu trabalho de preparação para a fita.

E agora chegamos ao ponto mais alto do filme. Inevitavelmente, a fotografia. Entra directamente para a história do cinema. Não é por acaso que foram precisos cerca de nove meses para a terminar. Esta ficou a cargo da experiente Mandy Walker, que já havia sido fortemente distinguida pelos seus trabalhos anteriores. Um exemplo desse facto é o controverso "Moulin Rouge". E aqui reside o tronco comum face à opinião da crítica. Independentemente da opinião de cada individuo, é claramente unânime que o trabalho de fotografia é perfeito. A realização de Baz é excelente a muitos níveis. No entanto, peca, como disse Fernando Ribeiro (Ante-Cinema), pelo exagero a nível visual. Apesar do delírio, torna-se, por vezes, incómodo. No entanto, percebe-se a sua paixão pelo projecto, sobretudo sendo Austrália a sua terra mãe. O argumento foi escrito a quatro mãos se bem que a ideia partiu do realizador. De qualquer forma, destacam-se os nomes de Ronald Harwood, Stuart Beattie, Richard Flanagan e o próprio Luhrmann. Este é dotado de muita coesão realizando uma clara homenagem aos épicos da época de ouro de Hollywood. Também a sonoplastia vinga no mundo da sonoridade concebendo uma tensão enorme à tragédia e aos momentos melodramáticos. A duração parece-me apropriada, ou seja, os 165 minutos proporcionam a noção de "acabámos de viver uma grande aventura" e é mesmo esse um dos significados do que realmente é o cinema.

Existe, também, uma forte referência a "Wizard of Oz", fita de 1939 protagonizada por Judy Garland e, em especial, à belíssima canção "Somewhere Over the Rainbow" que é detentora de uma enorme importância no decorrer de toda a fita. E que bem que fica. Até dá para trautear a música aquando da saída da sala. A título de curiosidade, Heath Ledger teve direito a um casting mas acabou por rejeitar devido ao seu papel em "The Dark Knight". Concluindo, poder-se-á afirmar que os cerca de 150 milhões de dólares australianos foram bem gastos e ainda bem que o projecto foi financiado. O visual, apesar de exagerado em certas situações como mencionado supra, é estrondoso e é maravilhoso observar uma Autrália em construção. À fita, atribuo-lhe o 9 em 10 ou as quatro estrelas (e meia) entre as cinco possíveis. Este facto prende-se com a caomparação face a outros épicos. No entanto, ainda irei visualizar a obra de Baz brevemente em cinema e quando o fizer, aqui informarei se mudei ou não de opinião. Entretanto, aconselho vivamente a todos os leitores que a visualizem. Arrisca-se a tornar-se uma obra de referência em um futura próximo.

A Frase:
"Just because it is, doesn't mean it should be."

Ante-Cinema#

2 comentários:

Cine&Club2* disse...

Fernando, muito obrigado pela visita, espero te ver mais lá ... já está adicionado a minha pagina de blog's .

Fernando Ribeiro disse...

cleber,

Obrigado. Certamente que irei ao teu blog mais vezes. :)

Abraço.