A "Laranja Mecânica"

Amoral? Terrível? Doente? Ou simplesmente a mais pura representação do ser humano não reprimido? Ao longo do filme, Kubrick apresenta-nos uma luta constante entre o biológico/cultural e o humano/animal, espelhando todo este conflito em Alex e no seu gang peculiar, que nos mostram uma sociedade que visualmente e culturalmente, pode tanto ser chamada de “retro” como de futurista. De resto, este é apenas um dos paradoxos propostos pelo já falecido realizador, pois todo o filme é involto em contradições, que vão desde as personagens (repare-se nos seus hábitos culturais) até à própria narrativa, passando ainda pela música.
Estreado em 1971, mas proibido durante anos em vários países (nomeadamente em Inglaterra, onde o filme só estreou após a morte de Kubrick), “Laranja Mecânica” propõe uma assustadora visão sobre a mente humama, onde assistimos ao triunfo da “decadência” face aos valores convencionados pela sociedade. O filme é um verdadeiro grito nas nossas cabeças, daqueles perturbadores, que nos reviram até que, sem darmos conta, estamos do lado daqueles que até à data achavamos desprezível.
Há quem se refira a este filme como o melhor alguma vez feito, há também quem o cite como o mais polémico. Em ambos os casos, se não o é, certamente anda muito próximo. Foi preciso quase um quarto de século até que o casalinho Mickey e Mallory Knox, (anos mais tarde ajudados por Tyler Durden) continuasem a obra de Alex DeLarge.

João Albuquerque
Ante-Cinema#