CRÍTICA:
Há muita coisa a dizer sobre este filme, mas não sei se sou capaz de as dizer todas nesta revisão do 22º capítulo da saga Bourne, James Bourne, ups, ups. Bond, James Bond. Erro meu, peço desculpa, não sei como fui confundir estas duas tão distintas sagas (sentido sarcasmo a apitar, pi pi pi)...
Pronto, muito bem, como já devem ter reparado, e atirando agora os sarcamos e as ironias para canto, comparei a saga Bond e a saga Bourne por razões óbvias. Pelo menos, para quem já visionou ambas as sagas saberá de que estou a falar e mais à frente refiro o porquê.
Este 007 encarnando na perfeição pelo intenso e feito-para-o-papel Daniel Craig, é uma encarnação totalmente inédita e nova na saga. E encaixa no glamour e estilo habitual do Bond, perguntam vocês? Eu digo que dado o contexto, este filme tem toda a razão de ser como é e de ter sido feito como foi, ora portanto, encaixa!
"Quantum of Solace" é a primeira sequela directa de um capítulo antecessor da saga. Retomando os acontecimentos de "Casino Royale", o filme começa com uma excitante perseguição de carros. Com Bond a conduzir o seu Aston Martin e com um olhar intenso e frio de quem controla sempre a situação, mesmo quando está em clara desvantagem, ou a levar das boas, este é, claramente, o mais frio, calculista, intenso e vingativo Bond de sempre e porquê que é assim? Porque no filme anterior o seu coração foi estilhaçado pela primeira mulher que alguma vez amou, como queríamos nós uma sequela directa sem querer um Bond vazio ou digamos antes, repleto de raiva e com dificuldades em fazer o seu trabalho sem misturar os assuntos pessoais, que tanto o atormentam e não o deixam dormir? Impossível!
Consumido pela raiva e dor, Bond, após se ter livrado dos seus perseguidores e ter parado o seu carro, abre a mala e lá encontra-se "Mr. White". Entra o tema oficial. E assim começa o filme. Bond irá ao logo de pouco mais de 1h30m, perseguir uma perigosa organização de seu nome "Quantum", que tenciona dominar os recursos naturais do planeta, nomeadamente a água, enquanto procura a vingança pela perda da mulher que amou. Numa missão claramente pessoal...
Ao ser tomada a decisão de seguir os acontecimentos do filme anterior, era necessário ter um Bond assim mesmo! Muitas pessoas falam da falta de glamour, de charme e até de um lado mais humano. Falam da falta deste Bond ser o habitual James Bond! Mas para mim, ficou claramente demonstrado que este Bond é do mais humano que já vimos! Ao ficar tão enraivecido e destroçado com a perda de Vesper, este demonstrou que é um homem que ama e que tem sentimentos!
Este filme é o mais curto da história da saga e repleto de todos os tipos de acção! Desde a estonteante perseguição de carros logo a abrir, até uma perseguição marítima e acção nos ares há. Acreditem há mesmo de tudo! O "estilo trator" de Daniel Craig, em "Casino Royale" é substituído por um "estilo mais pantera" neste "Quantum of solace". Até Bond perdeu massa muscular (ao que parece não de propósito) apresentando-se mais magro, o que até encaixa bem neste filme! Os diálogos mais ricos do filme anterior, são substituídos por diálogos mais curtos neste. Bond não está para muitas falas e apresenta-se como um homem atormentado, que não dorme bem ou nem dorme por completo. Os cenários mais coloridos e estilosos de Casino, são substituídos por cenários mais "secos", com tons mais escuros.
Tudo isto para concluir, "Quantum of Solace" não quer ser "Casino Royale", nem lhe copia o estilo, nem tenta superar o seu antecessor! Decisão sábia na minha opinião! Este filme era uma história que precisava de ser contada! É, como li algures, uma extensa nota de rodapé do filme anterior! É como aquele capítulo de um livro policial que andamos a ler, que tem poucas páginas, mas é intenso como um bombardeamento! É uma parte da história que mostra o crescimento da personagem, e acredito que no próximo capítulo já teremos um Bond sem fantasmas, teremos um Bond, James Bond.
Mas não confundam o que estou a querer dizer, achei que precisava de escrever o que escrevi antes, porque muita gente parece se ter esquecido que estamos perante uma sequela directa e saliento o directa! Ou seja, o Bond que nos foi presenteado tinha que ser exactamente o que foi! Isto não significa que tenha gostado imenso do filme. Gostei, mas não achei nada de especial! Os efeitos de "WOW" do último filme, foram substituídos por uma história algo desconcertante e até confusa e uma câmara muito agitada e mexida nas cenas de acção, o que me fez alguma confusão... Ah e as cenas de acção tiveram muito de Jason Bourne (isto ficou bem patente em quase todas as cenas de acção), algo que não me deixa chateado, acho que com Daniel Craig como Bond, essas mesmas cenas funcionam na perfeição!!
Em relação às outras personagens, achei que Judi Dench esteve ao seu grande nível de novo como "M" e Mathieu Amalric como "Dominic Greene", membro da organização "Quantum", também esteve em bom plano. Em relação às incontornáveis "Bond Girls", Olga Kurylenko não me convenceu! Achei que a sua personagem não foi bem explorada, muito provavelmente não havia o que explorar, mas depois de uma "Bond Girl" tão bem caracterizada por Eva Green no filme anterior (noutro contexto e história é verdade), a fasquia estava demasiado alta e não fiquei convencido...
Concluindo, este 22º capítulo da saga tinha, na minha opinião, de ter estes contornos. Esta história podia ter sido contada de uma forma diferente e menos confusa? Sim, talvez! Mas não foi e o filme funciona como uma espécie de introdução ao combate a uma perigosa organização muito mais complexa do que se esperava... Este não é o filme habitual de 007, cada vez mais os contornos clássicos são substituídos por contornos modernos, que magoam os fãs mais "hard core" e deixam outros cépticos e desapontados... Eu não fiquei muito desapontado, porque a realidade é que Daniel Craig é o melhor Bond de sempre e este estilo até funciona bem com ele. Acreditem como eu, o próximo filme voltará a ter a chama mais glamorosa e charmosa bem acesa!